Sobre a ASERG  

 

  :: Missão

  :: Objetivos

  :: Diretoria

  :: Parceiros

   Nosso Trabalho 

  :: Histórias

  :: Atividades 

  :: Fotos

  :: Imprensa

  :: Boletim

  Animais e afins 

  :: Maus-tratos

  :: Links

   Fale Conosco 

  :: Cadastro

  :: Associe-se!

  :: E-mail

 

Artigo 225, CF:

"Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações"

 

Leão Darshan: 13 anos depois...

 

por Renata de Freitas Martins

Jurídico Associação Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos

 

  

No final do mês de fevereiro de 2007, Marcelo, estudante de medicina veterinária em Vitória, ES, e que estagiou no Rancho dos Gnomos no mês de janeiro do mesmo ano, relatou-nos a existência de um leão na cidade de Cariacica, ES, o qual vivia em um frigorífico desativado. 

Pouco após ter feito o relato, conseguiu-nos algumas fotos, as quais de fato deixaram-nos muito preocupados, já que estava notória a situação de magreza do animal, bem como de insalubridade da tão inadequada jaula onde estava vivendo. 

Tratava-se de um leão que houvera sido doado por um circo há 13 anos atrás ao dono do então frigorífico, em troca de uns restos de carne para os outros leões mantidos no circo enquanto perdurasse sua estadia naquela cidade (e aqui fico imaginando por quantas outras cidadezinhas que nem ao menos sabemos da existência esse circo deve ter passado também e espalhado os descendentes desses leões). 

Seguindo-se ao relato de Marcelo, no início do mês de março de 2007, muitos foram os e-mails que recebemos denunciando a situação, inclusive porque naqueles dias havia sido publicada em um jornal local a foto do animal tirada e denunciada por um morador.   

Bem, como sempre a vontade imediata (emoção) é partir para libertar o animal da situação de crueldade, mas, com a cabeça no lugar (razão), esbarramos nos problemas: Como trazer o animal? Onde colocá-lo? E para alimentá-lo? Medicamentos? Pois é... apenas para uma idéia inicial de custos, o recinto com o mínimo de bem estar para um animal destes (já que bem-estar de verdade só existiria se ele estivesse livre em seu habitat natural, nunca tendo tido contato com a crueldade humana) é orçado em torno de R$ 32.000,00 e os custos com alimentação mensal para cada leão é de cerca de R$ 600,00. Esse o básico, pois não podemos nos esquecer que esses animais sempre chegam com a saúde totalmente debilitada e necessitam de caríssimos medicamentos. 

Alguns contatos telefônicos mais foram feitos conosco, com promessas de ajuda para transporte, recinto e alimentação, que ao início até nos trouxeram alguma esperança. Ao mesmo tempo, a sempre parceira Nina Rosa Jacob contatou-nos, pois também recebera e-mail relatando a situação do leão que então era chamado de Simbá e se comprometeu com a parceria na construção de um recinto de quarentena para que pudessemos então retirar o animal o mais rapidamente possível do local em que se encontrava.

Correria formada para tentar libertar o leão de seu martírio de 13 anos. Providenciamos um ofício para a secretaria estadual de meio ambiente, que teve como seu ponto mais alto o esboço de toda a legislação que poderia ser aplicada ao caso, a fim de que a citada secretaria desse ao menos apoio na fiscalização e dali se originasse um laudo oficial corroborando tudo que nas imagens já se era possível ter certeza. Bem, se dependessemos ao menos de uma resposta, admito que até hoje estaríamos esperando. Lamentável.

Como o caso era de aparente urgência e nada de pronta resposta ao ofício enviado, como nos houvera sido prometido, já no dia seguinte tratamos de fazer contato com o escritório do IBAMA de Vitória para saber de fato qual era a situação legal do animal.

Fomos informados que o dono do antigo frigorífico havia ficado como depositário do animal e que em 13 anos não havia regularizado a situação. (culpa de quem?)

Expusemos nosso anseio em poder retirar o animal do local, tendo-se em vista a notória irregular situação de fato e de direito, requerendo para tanto a expedição de toda documentação necessária para tal mister, tendo o atencioso técnico Vinicius do Ibama local  garantido com presteza esta expedição.

Situação legal praticamente resolvida, agora nos restava de fato viabilizar a ida de equipe do Rancho dos Gnomos ao local para a realização de todos os procedimentos necessários. Concomitantemente algumas orientações também eram repassadas numa tentativa de fortalecimento do animal até a data da viagem.

Ficamos felizes pois nos veio a notícia de Vitória que o transporte já estava todo acertado, tanto para o animal, quanto para a equipe, havendo inclusive um plano B, caso houvesse alguma falha.

Porém, os dias vão se passando, e nada mais de certezas, que outrora haviam nos sido dadas. Aqueles que prometeram ajudar, agora faziam-nos cobranças. (interessante, né?).

Como a equipe do Rancho dos Gnomos já estava comprometida e obstinada em de fato resgatar o leão Simbá, sem tempo para pensar em vaidades de determinados grupos, ou de quem seria procurado por imprensa ou ainda mesmo qualquer outro sentimento maléfico típico dos seres humanos, mas apenas e tão somente preocupada com O ANIMAL (pequeno desabafo no meio do texto...),   começou-se uma tremenda maratona para em tempo recorde tentar-se organizar e viabilizar  ida da equipe para o ES, bem como o transporte do leão para cá. Sim... apenas 2 dias para acertar-se tudo.

Após diversas estressantes tentativas e envolvimento de algumas pessoas para a viabilização desse resgate, a parceira Cláudia Rimini colaborou com a doação de quantia que viabilizou a ida de três membros da equipe do Rancho dos Gnomos para Vitória, bem como a reforma de carreta de transporte para o animal e a contratação de um caminhão guincho, no qual foi levada a carreta até o Espírito Santo, bem como onde foi trazido o animal na vinda para São Paulo. Os parceiros Verup, Marcos, Firmenich e Gláucia do Buffect Via Lactea também colaboraram para que o resgate do animal fosse possível.

  

     

Pois bem. Na madrugada do dia 17 de março de 2007 parte rumo ao Espírito Santo a carreta de transporte do animal, levada por um caminhão guincho. No mesmo dia, a noite, partem rumo Vitória os veterinários Salvador Felis e Cláudia Araújo, acompanhados por mim (Renata de Freitas Martins, jurídico), já que aparentemente alguns empecilhos jurídicos poderiam ocorrer no local, já que o então depositário do animal estava apresentando resistência para entregá-lo.   

Após uma "emocionante" viagem, que, por conta dos gravíssimos problemas aéreos atuais no Brasil, durou mais de 6 horas, a equipe do Rancho dos Gnomos chega ao aeroporto de Vitória quase às quatro horas da madrugada já do domingo, dia 18, juntando-se à Marcelo, que gentilmente colaborou in loco conosco, providenciando transporte pelas cidades, os últimos detalhes a ele requerido e até mesmo fazendo chá que mais tarde seria servido ao animal.

  

Dormir? Não restava mais tempo. Equipe Rancho dos Gnomos encontra-se com o técnico Vinicius do Ibama e parte para Cariacica, local onde estava o leão. Por lá, algum tempo depois, também se juntam a nós polícia ambiental, chefe de fiscalização do Ibama, alguns moradores locais emocionados com o finalmente conseguido resgate do animal, imprensa e, claro, alguns outros moradores pouco esclarecidos sobre a situação insalubre que o animal vinha sendo submetido, que eram contra a partida do animal, inclusive um senhor com uma "bela peixeira". 

Última tentativa amigável feita pelo Ibama com o então depositário do animal para que entregasse o animal, a qual, restou infrutífera e, portanto, apenas por meio de arrombamento seria posssível que caminhão com a carreta de transporte do animal pudesse entrar no local.

Assim, após polícia ambiental, ibama e equipe técnica do Rancho ter de fato atestado situação de maus-tratos ao leão no local, foi lavrado BO e então se procedeu o arrombamento, já que estávamos diante de situação de flagrante delito e, portanto, sendo este ato totalmente legal.

   

Muito floral (cedido gentilmente por O Alquimista, nosso parceiro de sempre!) foi ministrado no leão, que foi acalmando-se de maneira impressionante.

  

Enquanto isso, uma equipe viabiliza o "encaixe" da porta da carreta do animal com a porta do local onde ele estava, o que possibilitaria a tentativa de fazê-lo entrar no transporte sem a necessidade de sedação (já que havia uma grande preocupação se o animal aguentaria ser sedado, devido ao seu estado de magreza visível).

  

  

Após muito trabalho de todos, finalmente foi possível o encaixe perfeito entre as portas. A cara de curiosidade do leão já era algo emocionante e, corroborando de fato essa curiosidade, 2 minutos após o encaixe, lá estava o grande menino pulando de sua antiga jaula para seu transporte! Momento comemorado por todos, inclusive por parte da equipe do Rancho que ficou em São Paulo, mas que com certeza esteve conosco a todo instante.

  

  

A presença de moradores no local já era imensa, então, o mais rapidamente possível o transporte do animal foi colocado sobre o caminhão guincho e com a escolta da polícia deixamos o local, com destino a um local mais tranqüilo, onde o animal pudesse ser alimentado e tomar água, já que o calor era extremamente intenso.

  

Assim, alguns quilômetros do local, foi feita uma parada estratégica em um grande posto de gasolina local, onde haviam muitas árvores, com belas sombras. "Nosso" garoto já estava totalmente tranqüilo e então foi alimentado. Recusou a água colocada e então misturou-se no recipiente o chá de valleriana feito. Poucos instantes depois lá estava o querido leão abraçado ao recipiente e ingerindo todo o chá. Uma cena impagável.

Hora de finalmente partir, pois um longo caminho de volta nos aguardava. E assim foi. Longas horas de estrada, parando-se praticamente de hora em hora para monitoramento do animal e eis que finalmente no começo da noite de segunda-feira, dia 19 de março de 2007, chega nosso querido leão ao Rancho dos Gnomos.

Toda a equipe do Rancho dos Gnomos conhece então o tão esperado e querido leão, que, é imediatamente rebatizado no Rancho como Darshan (todo animal que chega ao Rancho com histórico de crueldade e maus-tratos recebe novo nome, pois temos a intenção que não mais associe seu nome a tudo que já tenha passado!).

Depois de uma longa, porém ótima viagem, alimenta-se bem e é muito querido.
Curioso demais em seus primeiros dias de Rancho observa tudo atentamente e teve seu primeiro contato auditivo com outros leões.

Darshan, querido curioso, seja muito bem vindo à sua paz!

(Aguardem no próximo boletim mais novidades sobre Darshan!)

 

anterior        Página Inicial          próxima