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Sobre a ASERG
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Jararacas
Sandro Secutti Biólogo Quando
se trabalha com animais silvestres ou exóticos, principalmente em uma
associação como o Santuário
Ecológico Rancho dos Gnomos,
a qual oferece 24 horas de suporte as autoridades competentes que lidam
com denúncias de maus tratos e com o tráfico de animais, além de
diversas outras ocorrências,
devemos como profissionais estarmos de prontidão para qualquer
tipo de ocorrência e/ou emergência. Independente do local da
ocorrência ou mesmo da espécie animal, sempre pelo bem estar dos
animais. No
dia 17 de dezembro, por volta das 19:00 horas, após um dia de trabalho
exaustivo, tomávamos um café para descansar e discutir os problemas e
soluções, quando o telefone toca com mais uma ocorrência, mas dessa vez
tratava-se de uma serpente venenosa, uma jararaca que quase atacou uma
criança num galinheiro próximo de Cotia/SP, e a pedido
do delegado Dr. Alexandre
Palermo,
fomos efetuar o resgate antes que o animal causasse algum acidente ou
mesmo fosse morto pelas pessoas na clinica de reabilitação para
dependentes químicos. Ao chegarmos no local com a nossa tralha de
captura, tivemos que agir rápido, pois com o final da tarde avançado e
com a pouca luminosidade em meio à mata atlântica, ficava cada vez mais
difícil visualizar a serpente no folhiço ao lado da cerca de bambu. Pudemos
constatar pelo padrão de colorido das escamas e pela distribuição geográfica
que realmente se tratava da espécie Bothrops
jararaca.
Estava enrodilhada com as voltas do corpo escondendo sua cabeça e
expressando seus comportamentos defensivos, como bater a cauda contra o
substrato e achatando o corpo dorso-ventralmente, tais comportamentos
foram observados no momento de aproximação com gancho. Após o primeiro
bote, o belo exemplar adulto medindo aproximadamente entre 1,10 e 1,20 m
de comprimento, subiu em alguns galhos ficando a meio metro de altura do
chão, onde realizou o segundo bote, em seguida com a nova tentativa de
captura permaneceu imóvel sob o gancho, sendo colocada cuidadosamente
dentro de uma caixa específica para transporte de serpentes. A
jararaca capturada foi solta em local distante do encontrado, mas no mesmo
maciço de mata atlântica que habitava, ou seja, na Reserva
Florestal do Morro Grande
em Cotia/SP, uma área protegida e administrada pela SABESP com 10.400 ha
de mata atlântica preservada.
Sobre
as jararacas Algumas
espécies são conhecidas popularmente por jararaca, jararaquinha,
jararacuçu, urutu, urutu-cruzeiro entre outras mais. Pertencentes a família
Viperidae, o gênero Bothrops compreende por volta de 21 espécies
atualmente reconhecidas, possivelmente 24, mas ainda é questionável.
Todas as serpentes deste gênero são peçonhentas,
possuindo uma dentição do tipo solenóglifa,
ou seja, dentes inoculadores completamente caniculados como uma agulha de
injeção. Quando a serpente esta de boca fechada, os dentes inoculadores
que são longos, ficam curvados para trás, assim que o animal abre a boca
para desferir o bote, os dentes inoculadores sofrem uma rotação e são
projetados pra frente. Tanto as jararacas como as cascavéis gênero Crotalus
e surucucu ou pico-de-jaca gênero Lachesis possuem fosseta loreal,
um orifício localizado entre o olho e a narina, possui função de
termorreceptor, percebendo a presença de calor, permitindo que a serpente
possa caçar no escuro presas homeotérmicas (de corpo quente) como aves e
mamíferos. Diversidade São
encontradas em sua maioria nas áreas úmidas como as matas, mas existem
também espécies que habitam ecossistemas de cerrado e caatinga. Segue
abaixo a lista de algumas espécies do gênero Bothrops. * Espécies na lista de ameaçado de extinção (IBAMA e IUCN) e sua categoria de ameaça. VU; Vulnerável, EM; Em perigo e CR; Criticamente em perigo Bothrops alternatus (Urutu-cruzeiro) Bothrops cotiara Bothrops fonsecai (Cotiara, Urutu) Bothrops itapetiningae Bothrops erythromelas (Jararaca-da-seca) Bothrops mattogrossensis
Bothrops neuwiedi (Jararaca-do-rabo-branco ou
Jararaca-pintada) Bothrops pubescens Bothrops urutu (Urutu) Bothrops jararaca (Jararaca) Bothrops insularis (Jararaca-ilhoa) * CR Bothrops alcatraz (Jararaca-de-Alcatrazes) * CR Bothrops bilineatus (Jararaca-verde) Bothrops taeniatus Bothrops atrox (Jararaca-do-norte) Bothrops leucurus (Jararaca) Bothrops
marajoensis Bothrops moojeni (Caiçara) Bothrops pradoi Bothrops brazili Bothrops
jararacussu (Jararacuçu) Bothrops
pirajai
(Jararaca) * EM (IBAMA) e VU (IUCN) Bothrops iglesiasi Bothrops piauhiensis Curiosidades
De
todas as espécies de jararaca (gênero Bothrops) a menor espécie
é Bothrops itapetiningae,
porém a mais agressiva talvez seja B. moojeni , mas de todas as
serpentes do gênero Bothrops, a detentora do veneno mais potente,
sem sombra de dúvida é a B. insularis (Jararaca-ilhoa), habitando
a ilha Queimada Grande situada no litoral sul de São Paulo a 35 km da
costa, adquiriu determinada característica para um veneno de ação mais
tóxica nas presas, isso se deve ao seu isolamento do continente, pois
houve uma pressão seletiva para toxinas que possuam uma ação mais rápida
sobre as presas da ilha, dieta constituída preferencialmente de aves
marinhas migratórias, uma vez que na ilha não existem pequenos mamíferos.
Quando filhotes provavelmente alimentam-se de pequenos
invertebrados e anfíbios. Diferentemente do que ocorre com as
jararacas do continente, não há a possibilidade de picar sua presa e em
seguida rastreá-la com o auxílio olfativo da língua e órgão de
Jacobson. Portanto o veneno da jararaca-ilhoa deve agir o mais rápido
possível, evitando que a presa se afaste demais e acabe até mesmo caindo
ao mar, impedindo assim a sua busca e desperdiçando o precioso veneno. Além
desta, existe outra espécie de jararaca que também passou pelo mesmo
processo de evolução na história natural, isolando-se e originando a
denominada jararaca-de-Alcatrazes, referência ao mesmo nome do arquipélago
e sua maior ilha onde habita, o arquipélago também encontra-se a 35 km
do continente. Acredita-se
que ambas espécies que agora vivem isoladas nas ilhas tenham sido
originadas por ancestrais de B. jararaca do continente. O
isolamento pode ter ocorrido há pelo menos 11.000 anos ou mesmo antes,
durante as oscilações do nível do mar no Pleistoceno. A jararaca de
Alcatrazes também corre risco de extinção devido aos bombardeios da
Marinha Brasileira na Ilha. Acidentes O
gênero Bothrops é responsável por 80% dos casos de morte na América
Latina. A maioria dos casos de acidentes no Brasil é causado por
serpentes do gênero Bothrops, dentre estas em seguida estão as
cascáveis (gênero Crotalus). No passado não muito distante, a
empresa “Hollywoodiana”
explorou em seus diversos filmes uma série de pessoas picadas por
serpentes venenosas e que graças a homens corajosos com seus truques,
estas eram salvas. No entanto tais procedimentos errôneos estão ainda
hoje enraizados na cultura popular, principalmente nas populações que
vivem mais afastadas dos grandes centros urbanos. Fazer torniquete, furar
o local da picada, chupar o veneno e cuspir, dar bebida alcoólica para o
acidentado e utilização de ervas, folhas e raízes no local da picada, só
pioram o quadro clínico do acidentado,
muitas vezes devido as estes procedimentos errôneos acabam por resultar
na amputação de membros necrosados e até mesmo levar a morte. Pois o
veneno possui ação hemolítica e proteolítica, destruindo fibras
musculares e tecidos. O
correto é procurar imediatamente um posto médico para tomar o soro
antiofídico,
somente o soro pode curar. Prevenindo
acidentes Não
caminhe descalço na mata ou plantações, recomenda-se usar botas de cano
alto, protegendo o máximo possível à canela. Olhe bem onde pise ou
pegue algo no chão. Mantenha os quintais limpos de detritos ou material
que sirva de alimento para ratos, atraindo serpentes. Proteger
e conservar Se
as jararacas e demais serpentes peçonhentas são os predadores que
controlam as populações de ratos e camundongos, a muçurana
(Clelia sp.) é um dos
predadores que fazem o controle alimentando-se das jararacas. A muçurana
é uma serpente imune ao veneno das jararacas, com exceção da cobra-coral.
Portanto devemos acabar com a cultura enraizada de matar serpentes quando
encontramos, seja peçonhenta ou não peçonhenta, deixe-a livre para ir
embora ou chame as autoridades competentes para realizar tal captura. No Santuário
Ecológico Rancho dos Gnomos
algumas vezes recebemos as serpentes já mortas
ou agonizando,
devido às pauladas na cabeça, impossibilitando a recuperação e possível
soltura na natureza. Ficha
biológica da Jararaca (B. jararaca) Classe: Reptilia Ordem: Squamata Família: Viperidae Subfamília: Crotalinae Nome científico: Bothrops jararaca Nome popular: Jararaca Distribuição: América do Sul Habitat: Florestas e cerrado Hábito:
Noturno Tamanho: De 0,5 a 1,20 m de comprimento Características:
De todas as jararacas é a mais conhecida e muito perigosa. Seu padrão de
desenhos e colorido torna-a de difícil visualização em meio ao folhiço,
proporcionando uma excelente camuflagem, mesmo para olhos
treinados. Possui atividade arborícola e terrestre. Alimentação:
Os filhotes tanto da jararaca como da maioria dos membros do gênero Bothrops,
possuem a extremidade da cauda mais clara ou amarelada, sendo utiliza para
o engodo (atrair) de pequenas presas como rãs, sapos, e pequenos
lagartos. Quando adulta alimenta-se principalmente de pequenos roedores e
marsupiais. Reprodução:
Vivípara,
ou seja, os filhotes nascem já formados e idênticos aos pais, ao invés
de colocar ovos. Os nascimentos iniciam-se na estação chuvosa. *
Peçonhenta (venenosa) | ||
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