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Sobre a ASERG
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Jabuti Sandro Secutti Biólogo
Cláudia Araujo de Oliveira Médica Veterinária
Sabemos que para o comércio ilegal de animais silvestres no mundo, em se
tratando das aves, os papagaios (Amazona aestiva) estão no ranking
das espécies mais traficadas no Brasil, no entanto o equivalente para o
mundo dos répteis largamente retirados das matas brasileiras, esta os
jabutis, também conhecidos por jabuti-piranga ou tartaruga-terrestre (Geochelone
carbonaria). O Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos possui
atualmente 15 exemplares em suas instalações. Na natureza vivem nas regiões
norte e nordeste do país, podendo medir mais de 50 cm e viver até 80
anos de idade, no entanto quando adquiridos ilegalmente por pessoas sem
total conhecimento, deixam de viver e passam a sobreviver por anos, pois
esta espécie possui grande resistência as condições desfavoráveis,
acabando por ter uma vida inadequada e falecendo precocemente.
É comum chamarmos qualquer animal que pertença à ordem dos répteis
e que possua carapaça (ou casco) de “tartaruga”, porém não é bem
assim, pois existem os cagados e tracajás, estes também denominados
erroneamente por muitas pessoas.
Existem uma outra espécie de Jabuti que pode ser facilmente
confundida com Geochelone carbonaria (Jabuti-piranga),
cientificamente classificada como Geochelone
denticulata (Jabuti-tinga), vive nos domínios da floresta amazônica
e possui as escamas da cabeça
e membros de cor amarela e não vermelhas como em G. carbonaria.
Mas é verdade que quando ambas espécies não estão bem de saúde,
desenvolvendo-se com deficiência alimentar ou mesmo enlameadas com a
terra do próprio recinto, fica difícil notar tal dimorfismo entre as
duas espécies. CASCO
A parte dorsal é denominada carapaça ou casco, enquanto que a
parte ventral chama-se plastrão. A primeira é uma estrutura formada pela
fusão de “placas córneas”, ou denominadas também por “placas
dérmicas” de origem epidérmica, com as costelas e vértebras
de origem mesodérmica, juntas formam o casco, uma estrutura resistente e
muito eficiente na proteção contra os predadores, enquanto que o plastrão
é a fusão de placas dérmicas com a clavÍcola e interclavÍcola.
Quem nunca viu um desenho animado com a tartaruga se escondendo dentro da
sua carapaça protetora quando algo lhe incomodava?
Pois então, essa característica contribuiu para classificar a
ordem Chelonia em duas subordens; Cryptodira ( crypto = escondido,
dire = pescoço) quelônios que conseguem retrair a cabeça para dentro da
carapaça, curvando o pescoço na forma de “S” vertical, enquanto que
os Pleurodira (pleuro = lado) não conseguem realizar tal manobra,
porém desenvolveram outro tipo de mecanismo protetor de injurias,
retraindo a cabeça curvando-a lateral e horizontalmente na carapaça.
Os jabutis não trocam de pele como os lagartos e serpentes, pois o
crescimento da carapaça se dá pela adição de queratina na superfície
interna da cada escudo, formando as linhas concêntricas facilmente visíveis.
Alguns pesquisadores afirmam que é possível determinar a idade do animal
através da contagem destas linhas. MAUS TRATOS
Os Jabutis costumam ser comercializados ilegalmente para serem
mantidos em jardins ou no quintal cimentado, porém o desconhecimento de
muitos sobre a biologia e fisiologia destes répteis acabam resultando em
mortes ou reduzindo o tempo de vida. Sendo que quando colocados para viver
em jardins, muitos morrem afogados em lagos artificiais ou piscinas, pois
não sabem nadar. Quando colocados em chão de cimento, danificam o plastrão,
o que por sua vez facilita a entrada de hospedeiros como fungos e bactérias.
Dentre os maus tratos, inclui-se também a má alimentação, quase
sempre composta só por mamão
e alface, acarretando em diarréia quando oferecido em excesso, isso
quando não são oferecidos frutas e legumes estragados ou restos de
comida, como cascas de frutas, que apesar de comerem são pobres em
vitamina, causando a chamada avitaminose, ocasionando também num inchaço
do globo ocular. Não é incomum observarmos em cativeiro o comportamento
de coprofagia (comer fezes) devido à falta de higiene, pois o encontro
com excrementos pode significar algo comestível, fato este não
encontrado na natureza, pois o encontro com as fezes de outro animal é
mais raro, uma vez que é decomposição é rápida.
Outro grande problema é a carência de cálcio e iluminação
adequada, por se tratar de répteis diurnos, estes animais necessitam de
raios “ultra-violeta B” (com exceção das serpentes) para sintetizar
a vitamina D3, que conseqüentemente irá contribuir na produção de hormônios
para a fixação do cálcio. Caso isto não ocorra, o animal irá
apresentar uma descalcificação e raquitismo, levando ao aparecimento de
casco (carapaça) mole e tremedeiras para sustentar o corpo na locomoção.
Além da ausência de luz solar direta, o excesso de umidade também pode
resultar no casco mole e com desprendimento dos escudos córneos, expondo
o osso e sujeitando o animal à ação de bactérias e fungos.
Os répteis não sabem o que significa raio UVB, mas sabem que a
luz solar produz calor para aquece-los até a sua temperatura ideal de
atividade, processo este privado na maioria dos jabutis em cativeiro, por
outro lado podem morrer de hipertermia (temperatura alta) se expostos ao
calor continuo caso não haja sombra e água fresca disponível ou mesmo
ficar doentes se submetidos a vários dias sob temperatura baixa (hipotermia),
podendo ocasionar numa pneumonia e até a morte. Nota-se uma
mudança de comportamento quando o jabuti fica com a cabeça posicionada
pra cima, essa manobra é realizada para evitar que a secreção obstrua o
canal nasal, dificultando a respiração. DIMORFISMO
SEXUAL
Os quelônios terrestres apresentam diferenças morfológicas
quanto ao sexo, tal característica pode se observada no plastrão, pois
os machos apresentam uma concavidade, a qual contribui para a cópula
quando o macho monta na fêmea, formando um encaixe entre o casco curvado
(convexo) e o plastrão côncavo. Mas tal dimorfismo sexual só é possível
ser visto nos jovens com mais de três anos de idade, caso contrário
podem ser confundidos com fêmeas. A maturidade sexual se inicia a partir
do quarto ano de vida. ZOONOSEAtualmente é conhecido somente um tipo de doença transmitida aos seres humanos, conhecida como salmonelose, é transmitida por bactérias que podem causar febre, dores de cabeça e diarréia. Mas pra que ocorra tal transmissão é necessário que o animal esteja infectado pela bactéria e que as fezes contaminadas sejam ingeridas pela pessoa através das mãos sujas, sendo levadas até a boca ou por manuseio de alimentos. | ||
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