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Animais apreendidos: e agora?
por
Renata de Freitas Martins Jurídico Associação Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos Animais exóticos e
domésticos em circos, animais silvestres sendo traficados, animais domésticos
sendo utilizados em rinhas ou em situações lastimáveis nas ruas ou até
mesmo nas casas daqueles que se dizem seus “donos”. Estes são apenas
alguns dos casos de maus-tratos a animais que, infelizmente,
rotineiramente são constatados pela sociedade civil e pelos órgãos
competentes para tomar providências nestes casos. A cada caso de
flagrantes maus-tratos, a primeira atitude buscada é a retirada dos
animais da posse de seu “dono” irresponsável, por métodos legais que
assim o permitem. Porém, neste momento começa uma longa busca por um
local onde esses animais possam ficar. Infelizmente raros são
os locais aptos para receberem animais provenientes de apreensões aqui no
Brasil: alguns poucos Centros de Triagem (municipais ou estaduais);
associações civis, que acabam assumindo um ônus estatal e sem qualquer
ajuda governamental; às vezes um ou outro zoológico (lembrando-se que
poucos são os zôos que estão legalizados perante o IBAMA), porém que
acabam ficando com animais em seus setores extras, como excedentes; e
alguns criadouros. Os Centros de
Triagem, com pouca estrutura se compararmos à enorme demanda, normalmente
recebem animais silvestres, especialmente papagaios, araras e aves em
geral. Nos últimos tempos também passaram a receber alguns exóticos
“da moda”: iguanas e tartarugas canadenses. Praticamente todos os dias
tenta-se levar animais após apreensões para esses centros de triagem,
porém o final é sempre o mesmo: não é possível fazê-lo. As associações
civis, com raríssimas exceções, estão todas super lotadas também, e
99% abriga apenas animais domésticos, ficando aí uma enorme demanda
excedente de animais silvestres nativos e exóticos. Aliás, tenho
conhecimento de apenas uma única associação que abrigue grandes animais
provenientes de apreensões por maus-tratos em circos, especialmente leões
(a Associação Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos). Vale ressaltar
ainda que todas essas associações que abrigam e tutelam muitos animais
passam por dificuldades financeiras enormes e surpreendentemente não
recebem apoio governamental algum, apesar do trabalho extremamente necessário
para o país. Já os zoológicos
afirmam que os animais abandonados em centros urbanos atrapalham seus
trabalhos, conforme veementemente discutido no IX
Congresso Paulista de Zoológicos. É dito que não há a estrutura para
receber todos os animais que se pretende encaminhar para os zôos.
Reclamam muito também sobre os leões, pois há um alto custo para
manutenção destes animais e os consideram como um problema (aliás, o
caso dos leões excedentes no Brasil está tão gritante, que nosso próprio
órgão ambiental tentou a manobra da “repatriação” (???) desses
animais para a África há algum tempo atrás, havendo-se fortes indícios
de que seriam levados para fazendas de caça). Finalmente os criadouros. Esta tem sido uma
das opções de destinação de alguns animais silvestres aprendidos. Porém,
tratam-se de criadouros comerciais, e que irão ter lucros com esses
animais. Portanto, qual a diferença entre os animais vendidos pelo tráfico
ou destinados para um criadouro e acabar sendo vendido da mesma maneira?
Realmente não a vejo. Pois bem. Se a falta de destinação para
os animais é tão latente, o que se deve fazer então? Deixar de fazer
fiscalizações e apreensões? Manter os animais obtidos e mantidos de
forma ilegal com o próprio “dono” como depositário fiel? Encaminhar
todos os animais silvestres para os criadouros comerciais, pois lá serão
vendidos, mas pelo menos haverá um caminho para que a ilegalidade
torne-se algo legalizado aos auspícios de nossos próprios órgãos
fiscalizadores? E os grandes animais que ninguém quer (?), apenas aquela
única associação que citei anteriormente, mas que está no limite de
suas possibilidades, devem ser simplesmente eutanasiados e pronto? Realmente trata-se de uma questão ampla,
porém, para que seja finalmente resolvida, não exige nada muito
complexo. Isso mesmo. A solução é simples. Bastaria que locais específicos
e especializados em determinados animais (santuários) fossem incentivados
e se multiplicassem pelo país, suprindo a demanda de destinação. E para isso, basta vontade política de nossos legisladores e do Poder Executivo, regulamentando esses locais com legislação apropriada e criando-se condições, inclusive com destinação de verba do Fundo Nacional do Meio Ambiente para estes fins. Nada utópico não? | ||
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